
O protagonismo do Baile funk e seu espaço
em São Paulo

Por Evelyn Bianca
Centenas de jovens reunidos por um motivo: o funk. Douglas Mendes é um deles. De segunda a sexta ele é apenas o Douglas, mas aos finais de semana ele vira Mc Dm. Espalhado pelas comunidades da cidade de São Paulo, o fluxo é a diversão dos jovens nos espaços públicos. Atualmente, a melhor maneira de entretenimento para os moradores das comunidades são os Bailes funk. A falta de estrutura e principalmente de lazer nas periferias paulistanas faz com que as ruas se tornem o espaço mais apropriado para os fluxos.
Não é de hoje que a cultura do funk está presente na cidade de São Paulo, mas com o tempo o funk paulista vem ganhando mais espaço. Existe uma demanda grande por música dançante que um dia já foi preenchida pelo axé e pelo pagode, mas com a ascensão da música com as batidas mais fortes o funk tomou o lugar de música eletrônica brasileira. Com isso, os movimentos advindos do funk foram crescendo e se intensificando cada vez mais. Os bailes funk, que para muitos é conhecido como fluxo de rua é um deles. Cerca de 300 a 400 fluxos acontecem todos os finais de semana na cidade de São Paulo. Os bailes chegaram à cidade pelas periferias, por conta da influência dos funks que já ocorriam na Baixada Santista e no Rio de Janeiro.
O número de locais onde o funk é tocado e as vertentes dentro do funk se crescem na medida em que o funk ganha mais espaço. A representatividade do movimento funk como manifestação de pensamento e expressão de uma identidade reforça o fato do funk se destacar tanto. O funk é a música eletrônica brasileira e essa é a sua grande identidade.
Para os jovens, o funk não é apenas um estilo musical. O funk é um estilo de vida, uma identidade cultural. Os fluxos não são apenas bailes de favela, mas também uma forma de fugir da realidade e esquecer dos problemas. São encontros e desencontros. É onde tudo acontece e tudo se permite. É nas periferias da cidade grande de São Paulo onde tudo ocorre. Sem nenhuma estrutura montada, os bailes acontecem com apenas data, hora e local marcados. A comunicação é feita pelas redes sociais. Com os carros equipados com sons extremamente potentes, a música não para e a batida é intensa. A bebida também não falta, são dezenas de barracas e adegas espalhadas pelas ruas. O baile de favela começa tarde da noite, mas não tem hora para acabar. Aberto para qualquer um o único custo é a diversão garantida para os frequentadores.
Movido por sua paixão pelo ritmo musical, Douglas acompanha os bailes funks desde pequeno. Apesar de ter frequentado baladas e casas noturnas, ele conta que um dos motivos pelos quais frequenta bailes funk é o fato dos os fluxos serem uma opção mais viável financeiramente. Não gastar dinheiro com a entrada torna o evento mais acessível, além das bebidas terem o custo baixo. “O Baile funk é do povo, ele abraça todo mundo”, afirma o Mc. As idas aos fluxos despertou em Douglas a vontade de virar Mc.
A falta de opções de lazer nas periferias e a falta de espaços adequados para a expressão da cultura funk também foram os estopins para que os fluxos ocupassem as vias. A única maneira de reunir uma multidão de gente é a festa na rua. A capacidade que os jovens têm de organizar novos espaços de lazer chama a atenção. Sem contar com a ajuda e autorização do poder público, os fluxos são feitos de maneira amadora e faz muito sucesso.
Apesar de todo o sucesso que os bailes funk fazem, e da multidão que o movimento arrasta, o fato da utilização dos espaços públicos dividem opinião. O problema é que nem todo mundo aceita dividir o espaço com os jovens funkeiros, o que acaba fazendo com que interesses entrem em conflito. A forte resistência da população e da polícia não impede que os bailes aconteçam, mas acaba gerando alguns conflitos entre moradores e os jovens que frequentam os fluxos.
Argumentos como a perturbação do sossego, a criminalização, a aliciação de menores, o uso constante te álcool e drogas, o lixo, o barulho ensurdecedor e o fato da movimentação atrapalhar o fluxo do trânsito, são alguns exemplos de repressão que os bailes funk sofrem. Para Douglas Mendes a liberdade de não ter horários e nem restrições acaba se tornando a principal característica do fluxo de rua: “Se tiver um carro com som na rua, começa o fluxo. Se fosse algo organizado não seria a mesma coisa”, conta Douglas. Apesar de entender o lado dos moradores Douglas sabe que essa foi a saída que os jovens encontraram de se divertir.
Já se discute a ideia de regulamentação dos bailes funk em São Paulo. Renato Barreiros foi subprefeito na Cidade Tiradentes e acompanho de perto o “boom” do funk na periferia paulistana. Diretor dos documentários “Funk Ostentação” e “No Fluxo”, o ex-subprefeito conta que a ideia de regulamentação só funcionaria na prática se a prefeitura encontrasse um meio termo. A realização de eventos menores seria um bom exemplo. Com locais que comportassem u público de até três mil pessoas e com hora para acabar. “ Quando fui Subprefeito na Cidade Tiradentes comecei esse projeto com o baile funk permitidão. Deu muito certo”, diz Renato.
A repressão policial e o enfoque negativo da mídia em relação aos bailes funks também são problemas que o movimento enfrenta. Bailes como o de Heliópolis, Marcone, São Rafael e o Baile da D17 na comunidade Paraisópolis, são os maiores e alguns dos mais famosos na cidade de São Paulo. Conhecidos pela grandiosidade e por abrigar gente de toda a cidade, esses fluxos são marcados pela repressão da policial. Segundo Renato o discurso de repressão policial já dura há cerda de dez asnos, mas não trouxe soluções para o problema. O poder público precisa mediar esses conflitos e encontrar uma solução: “Nunca neguei os problemas, mas a visão negativa que a mídia passa acaba prevalecendo”, afirma Renato. “O que vemos é a generalização e a criminalização do que acontece nos bailes, mas esses jovens sofrem com a falta de opção de lazer”, finaliza.
Douglas, que já sofreu com a violência da polícia acredita que a legitimação dos espaços públicos para a utilização de manifestações culturais, seja ela qual for seria a melhor solução. Esse processo é importante para a democratização do acesso à diversão. Para o Mc, o funk precisa ser visto como uma manifestação e expressão cultural. Não só por parte daqueles que representam o movimento, mas sim da sociedade em si. O funk já conquistou o seu espaço, o que falta é o reconhecimento.