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A Ampliação do acesso ao cinema e a ressignificação desse consumo

Por Guilherme Franco

            Como a maioria das artes comerciais, o cinema em seu auge foi objeto de luxo. A sétima arte, assim denominada por Ricciotto Canudo em “Manifesto das Sete Artes” (e assim surgindo a expressão) sempre foi de difícil acesso a uma população com menor poder aquisitivo. Cada vez mais intervenções como a própria internet, cine debates, cineclubes, Circuito Spcine, e construção de shoppings e complexos fora do eixo central da cidade ampliam o acesso a filmes e produtos audiovisuais que anteriormente jamais chegariam a essas regiões. O espectador está tendo que se deslocar menos para ter um mínimo acesso a locais culturais.

 

            Ana Paula da Silva – consultora audiovisual

Ana Paula é carioca e mora na capital paulista desde 2013. No Rio de Janeiro ela observou por meio de projetos da RioFilme, de levar salas de cinema para a periferia, que a preferência do público ainda se mantém por blockbusters (filmes com foco na bilheteria, geralmente comédia, romance e ação). “Enquanto a TV investiu em produções de entretenimento que se comunicasse mais com a classe C, no cinema, este público ainda tem buscado os filmes de grandes bilheterias, como os títulos de ação e animações estrangeiros e ainda, comédias que tem mostrado resultados flutuantes- ora grandes sucessos e outras vezes, decepções. ”

            Ana sente que a experiência da Spcine (empresa de cinema e audiovisual de São Paulo) de levar filmes aos CEUS (Centros de Artes e Esportes Unificados) é algo bem recente e não vê ainda um resultado concreto por conta do curto espaço de tempo. Os filmes exibidos têm apoio da empresa que atua como um escritório de desenvolvimento, financiamento e implementação de programas e políticas para o setor audiovisual.

               Perguntada sobre se esse acesso ao cinema mudaria e aumentaria as produções blockbuster com a representação da população periférica que sempre é colocada de modo escrachado, Ana comentou que o estereótipo reflete o olhar do opressor, representado pelo mais poderoso. Enquanto a classe artística for prioritariamente formada pela elite, esta visão continuará a ser replicada nas telas e nos palcos, mesmo que existam focos de resistências em diversas formas de arte.

            O cinema passou a ser considerado uma proposta de cultura e entretenimento elitizado a partir da década de 80 quando muitas salas de exibição de rua fecharam. Antes, era considerado um lazer barato e acessível. Atualmente, o cinema tornou-se uma opção relativamente com poder de custo elevador caro, por conta da grande variedade de salas, como iMax e 3D e também o alto valor dos produtos do local. No sentido de retomada do cinema como uma opção de lazer e cultura para o grande público, as salas nas periferias têm grande importância pela acessibilidade física, mas há de se levar em consideração o preço dos ingressos e o reposicionamento dos títulos brasileiros como um produto de qualidade a ser consumido, uma vez que existe ainda um certo preconceito com as obras produzidas no país.

 

          Carole Moser – Coordenadora executiva de projetos audiovisuais

            Carole é casada e tem uma filha de 11 meses de idade, junto com seu marido, ela frequenta o CEU Butantã e o CEU Meninos, no qual já teve a oportunidade de ver filmes como “O Menino e o Mundo” (animação brasileira indicada ao Oscar no ano de 2016). Ela acredita que o cinema precisa se localizar como arte acessível. “Quando se coloca a palavra glamour, já tira acesso de grande parte do público. ” Para ela, é preciso uma nova visão, gerar novos hábitos de consumo, tirar a ideia de que o público periférico somente quer filmes de massa.

            “É preciso criar uma nova democratização, entender que cada vez se tem um novo público. Filmes que tenham representatividade e fale com eles (população periférica). “ Como citado por Carole, “Que Horas Ela Volta” foi uma grande abertura para um nicho de pessoas não acostumadas com o hábito de ir ao cinema. Carole considera que ações específicas de empresas maiores, como o Circuito Spcine são exercícios de criação de audiência, além do simples fato de levar uma sessão para uma comunidade afastada.

 

            Tito Liberato – Marketing e coordenador de distribuição audiovisual

            A conversa com Tito se iniciou questionando a ação de cineclubes e exibições em escolas e centro culturais. Para ele, muitos cineclubes são organizados e passam pela questão da exibição ilegal. Pois para exibir uma obra que detém direitos, o correto seria pagar por essa exibição. Um dvd recolhe impostos e direitos autorais, se não exibido corretamente é considerado pirataria. Uma forma de se ter a exibição para grupos é por meio da MPLC Brasil (Motion Picture Licensing Corporation) que intermedia o processo de exibição de títulos audiovisuais em locais como universidades e outros.

            Tito, que trabalhou durante doze anos na Fox Brasil, lançando nos cinemas diversos títulos, entre eles o clássico “Titanic” afirma que muitas campanhas foram feitas para a conscientização referente à pirataria, mas ainda assim se tem uma desinformação e falta de comunicação de vários lados.

            Segundo Tito, o público de cine clubes é diferente do de cinema. Visando um maior diálogo e abrangência, a programação nos CEUS oferece desde filmes como “Carrossel” até o premiado internacionalmente “Aquarius”. O mercado ainda não tem uma noção concreta formada por consequência do maior acesso ao cinema, visto que as ações de ampliação da exibição cinematográfica são recentes. Se bem aproveitada, uma reformulação de personagens e histórias irá acontecer, refletindo o consumo de outras mídias por esse público, e assim interesse de novas marcas em apoiar e incentivar essas novas produções.

​© 2016 por Guilherme Franco.

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