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Um Espaço que Transforma

Por Gabriela de Olivera e Oliveira

               Dois lugares completamente diferentes, geralmente separados por um meio-fio. Durante o passo, em um dos lados o cimento esquenta os pés, a temperatura é quente, no outro, o cimento, a cidade, a poluição, não chegam. Nesse lugar a típico, agora os passos se moldam a um ambiente, onde já não é mais quente. É possível sentir na pele o ar húmido, ouvir o som de pássaros, o barulho de água corrente. Ali, apenas a um passo do meio-fio, a vegetação transformou, por mais que pequeno, um pedaço da rua, da cidade, das pessoas que por ali circulam.

 

               Cheiro de terra molhada, para a maioria dos paulistanos está presente apenas na música da dupla Sandy e Júnior. A temperatura elevada e o ar seco acompanham a correria dos carros, dos pedestres, da metrópole. Na maior cidade do país, todos os dias o concreto avisa sutilmente, a saudade de uma sombra. As alterações ambientais lentamente vão deixando traços em uma geração, uma sociedade que se esqueceu ou não sabe mais qual é o cheiro da poética “terra molhada”

 

               Dois amigos, um arquiteto, José Bueno e o outro, Luiz de Campos Jr, geógrafo. Resolveram que sim, paulistanos terão uma área urbana para chamar de sua. O movimento Rios e Ruas trabalha com a intenção de conscientizar e transformar a interação da população com a natureza, reencontrar a vida que se perdeu no meio do cimento.

 

               Por meio das redes sociais as expedições vão sendo formadas. Mostrar aos moradores da cidade de São Paulo, os rios invisíveis que estão debaixo da terra, mas que ainda podem ser vistos e ouvidos por meio-fio e bueiros. Antes das expedições, a nascente Iquiririm que atravessa o Instituto Butantã, deságua no Rio Pirajussara dentro da USP e depois no Rio Pinheiro, era como disse José Bueno ”Um lugar com um monte de nada, jogavam caçambas de lixo aqui". Hoje, a nascente é aquele lugar atípico no meio do caos urbano.

 

               Por de baixo de um terreno baldio usado como lixão, as águas da nascente Iquiririm tentaram florescer.  As expedições remontam e reestruturam um cenário que agora explica e conversa com aqueles que se dispuseram a conhecer, aprender e transformar a nascente que é livre e ressalta a fauna e flora que agora coexistem justas a ela.

 

               “Agora eu quero que os radicais vêm, se aproximem mais e toquem essa água. Aí tem muita gente que diz que não, eu aprendi que não pode tocar nessa água, ela pode me contaminar. Isso mostra que a gente foi programado a achar que não existe agua boa em São Paulo, que a água está poluída.” Conta o geografo Luiz de Campos Jr, sobre as primeiras interações do público com a nascente. Para muitas pessoas essa pode ser a primeira e única interação direta com elementos de uma vegetação. Nas expedições, o público transforma o espaço e o espaço transforma o público. “Quando a gente provoca esse contato, aqui o rio entra nas pessoas, e as pessoas nunca mais vão esquecer” finaliza Luiz de Campos Jr.

 

               Na reestruturação da nascente do Iquiririm, as pessoas foram convidadas a colocar a mão na massa, no caso, na terra. A recriação da vegetação do terreno, foi uma parte essencial para criar e recriar o contato com o ambiente. Lá, os voluntários puderam aprender como se manipula o curso d’água, o que se deve plantar em torno de uma nascente, como se planeja uma área verde, como se planta, e a mais rica de todas as experiências, transformar um espaço que antes não permitia nenhum tipo de contato com a sociedade e com as pessoas da região, em um espaço onde agora cresce uma vida.

“Eu nunca tinha feito nada parecido com isso. É como andar de bicicleta, você nunca mais esquece. A partir do momento que você constrói esse tipo contato com a natureza, você passar a respeitar e cuidar dela. ” Relata Antônio Carlos, um dos voluntários na reconstrução da nascente do Iquririm.

 

               Os voluntários e moradores da região deram vida há um espeço, ajudaram a construir a flora e consequente a fauna de um lugar antes sem vida. Movimentos como esse, mudam a forma de pensar sobre assuntos relacionados ao meio ambiente. Diante do momento que o planeta vive por conta da poluição, desmatamento e a desvalorização de fatores ambientais, esses pequenos grandes atos, significam um passo à frente em busca do respeito perdido.

​© 2016 por Guilherme Franco.

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